sábado, 31 de agosto de 2013

Os Versos que eu não fiz

"O barro ficou marcado
 aonde a boiada passou..."




Quando ouvi estes versos pela primeira vez, me fiz uma pergunta: como não fui eu que fiz?


Quase dá para sentir o cheiro da relva fresca, da terra encharcada, do pelo molhado do gado.

O céu escuro prometendo muito mais chuva e um frescor úmido no ar. Animais alvoraçados. De vez em quando um berro tristonho de um bezerro apartado da mãe. 

Alguém joga milho no terreiro entoando "pururutiti, pururutitiiiiiii"  e como por mágica, as galinhas se aproximam. 

Laranjeiras em flor soltam um aroma adocicado no ar, mas estas flores são das abelhas. Uma majestade delas. Nem se aproxime.

A boiada é tocada para longe do curral. Em um passo lento, porque gado nunca tem pressa,  todo o rebanho vai seguindo  em direção à serra, incentivados por uma criança.

E "o barro ficou marcado
 aonde a boiada passou..."

A chuva que cai novamente enche de água os sulcos deixados pelas pegadas do gado e as crianças chamam isso de "angu com leite". É Inexplicável para um adulto. Nem tente entender. Mas para uma criança, faz todo sentido...

Algumas pessoas acreditam que tudo o que pensamos já foi pensado antes. Todos os pensamentos estão aí, no mundo das ideias, e serão captados de alguma forma por alguém devidamente preparado para recebê-los. Pois estes versos já tinham dono. 

Ai de mim.





NA
Os versos citados no topo são de Tom Jobim/Luiz Bonfá)

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