sábado, 1 de março de 2014

GRANDES SÃO OS DESERTOS...



"Grandes são os desertos, e tudo é deserto"

Sempre que estou triste, penso neste verso de Fernando Pessoa.

Se neste exato momento você se sente feliz, não poderá entendê-lo.

Sente-se bem por algum motivo, inda que tolo? então não é o momento de decifrá-lo.

É necessário que você esteja infeliz, com o coração dormente;
Uma bruma espessa deverá estar lhe anuviando o peito e subindo até a garganta, terminando em um nó górdio, impossível de desatar.

Seus pensamentos deverão estar desesperançados, tornando-lhe incapaz de ao menos vislumbrar algo que alivie a sua dor; Qualquer dor, quer seja do corpo, quer seja da alma, ou ambas, entrelaçadas e com redobrado vigor. Nenhum anestésico .

A sua sensação de tristeza deverá subir vertiginosamente em direção aos olhos, pesando as pálpebras, mas apenas marejá-los, sem força para transbordar em lágrimas salvadoras.

Você deverá estar só e querer estar só, não desejando nenhuma testemunha de sua dor. Nem ouvidos nem vozes.

Sua alma deverá estar "como o deserto, de dúbia areia coberto, batido pelo tufão" ou  "como a rocha isolada, pelas espumas banhada, dos mares na solidão", qual Fagundes Varela descreveu sua tristeza noturna. Quiçá amará a noite com seu manto escuro...

Ah, mas se você teve um lampejo de bem estar, um mísero vislumbre de alegria, conseguiu se lembrar de um momento de felicidade intoxicante ou se uma pequena semente de sonho germinou em sua alma, desista, não entenderá tal verso.

Tente entendê-lo da próxima vez que a tristeza chegar. 

FIM