Blog com minhas crônicas, poesias, ensaios, prosas em verso, Imagens e interesses gerais
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Quem é ela, essa tal FELICIDADE?
O poderoso e bem sucedido artista olha com os olhos marejados de lágrimas o casebre onde viveu sua pobre infância e diz: “aqui eu passei os dias mais felizes de minha vida”.
Sim, ele hoje mora em mansão, tem carrões, roupas de grife, prestígio, namora belas modelos e tem tudo o mais que o dinheiro compra. Mas naquele casebre teve os melhores dias de sua vida!.
Dá pra entender essa tal felicidade?
Definitivamente não!.
Nossos melhores momentos estão enraizados no ser. O ter é acessório que buscamos indefinidamente para suprir o ser, mas quando precisamos nos lembrar de um momento de felicidade intoxicante em nossas vidas, vem à nossa mente momentos que não podem ser comprados a nenhum preço. Nem todo o ouro do mundo poderá trazê-los de volta com todas as suas sensações.
Há um exercício para alterar o humor em que devemos nos fixar, de olhos fechados, em situações para despertar de forma positiva os cinco sentidos: pensar numa imagem linda, um por do sol, uma lua cheia, um cometa; se lembrar de um sabor delicioso, como um sorvete de jabuticaba, um churrasco; concentrar-se num cheiro inebriante, como da flor de jasmim do cabo, um perfume; pensar na música que vc. adora ouvir e finalmente para o tato, sentir que toca o pelo macio de um gatinho, uma colcha de seda, as espumas borbulhantes de uma onda no mar, enfim.
Sempre que faço esse exercício, me pego às voltas com as coisinhas mais simples e encantadoras de minha infância.
Pode ser a visão da lua cheia numa noite no campo. Minha mãe, eu e uma vizinha pela estrada que liga o vilarejo à Fazenda Velha. A lua tão clara que se poderia apanhar uma agulha no chão. Vínhamos de mãos dadas. Mamãe no meio, segurando em cada mão uma de nós. De tempos em tempos, Wanda e eu, trocávamos de lado para aquecer a outra mão, porque mamãe tinha as mãos quentes e nós, meninas, morríamos de frio.
Se não quero pensar na lua e todo o seu chamamento ao romance, tive também - pasme, leitor, um cometa para olhar! Pouca gente viu um cometa de verdade. Em 1986 perdemos a chance de ver o Cometa de Halley em sua plenitude. Ele decepcionou. Quem viu, foi por telescópios, e Carmensita viu e disse que “era como "ver uma lâmpada acesa em meio a uma neblina. Nada de cauda”. Decepção geral.
Imagine, nós vimos um cometa de verdade, com cauda e tudo!
Numa madrugada fria de inverno, eu então menina de seis para sete anos, fui acordada pela minha mãe, e fomos ao quintal ver a “estrela de cauda”!. Durante alguns minutos mágicos, ficamos de pé apenas olhando o horizonte aonde o cometa se estendia reluzente, lindo, inesquecível. Sonhei com esse cometa por anos. Hoje estou certa se tratar do cometa Pereyra, com períodos de 901 anos, e que para os místicos, teria prenunciado a morte de John Kenedy que ocorreria em 22 de novembro daquele ano.
Alguém disse que ele viajava a grande velocidade e isso me impressionou mais ainda. Podemos optar pela visão da lua ou por este cometa que voltará em torno de 2869...
Chega! voltemos aos outros sentidos.
Com certeza o sabor será o de uma singela, porem deliciosa comida, um simples prato esmaltado com arroz, feijão, couve refogada e carne picadinha, feitos pela minha mãe, saboreado na cozinha, ao calor do fogão a lenha, sob o barulho aconchegante da chuva que caía à tardinha.
E o cheiro? Porque não das flores de assa-peixe no auge do calor do meio dia – e lembrando Guimarães Rosa: “para mim, até hoje, o canto da fogo-apagou tem um cheiro de folhas de assa-peixe.”
E para os ouvidos, temos aquela música que tocava ao entardecer, encerrando a programação de uma rádio qualquer do Rio ou São Paulo,de Simon and Garfunkel – (The boxer)
“ I am just a poor boy
Though my story's seldom told
I have squandered my resistance…”
E por fim precisamos tocar em algo: pode ser aquele gatinho sonolento na volta do meio dia, que abraçávamos calorosamente, acariciávamos seu pelo lisinho e ele continuava sonolento...
Afinal, quem é ela, essa tal felicidade?
Pensando bem, ela zomba de nossa estupidez.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
MENINA
Em brumas espessas ela procura
Busca a cor dos dias passados
Vai falando consigo mesma
Fugindo por entre veredas
Alça voo no balanço, voa alto
Fala com árvores amigas
Agora toma banho no riacho, e
Improvisa uma cantiga
Conversa com os Beatles
Escreve uma reportagem:
O homem chegou à lua
E ela...espera um beijo ao luar
Porque sonhavas tanto acordada?
Menina, será que já sabias
O muito que não terias?
Nunca fostes uma menina
Pensavas como pensa a anciã
Sobre os pequenos ombros
A vida carregava
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Estrelas Pássaras
Oh! sei que vivo sob a espada de Dâmocles!
Quem me dera dela safar-me e correr o mundo
Mas que mundo?
O meu mundo é o das estrelas
Ele é de um azul infinito
E infinita solidão
Quem dera perder-me neste infinito escuro
Onde só sua luz brilhe para mim
E as estrelas são apenas pássaras
Quem me dera só nós dois
Ninguém mais
E o infinito à nossa espera...
Quem me dera dela safar-me e correr o mundo
Mas que mundo?
O meu mundo é o das estrelas
Ele é de um azul infinito
E infinita solidão
Quem dera perder-me neste infinito escuro
Onde só sua luz brilhe para mim
E as estrelas são apenas pássaras
Quem me dera só nós dois
Ninguém mais
E o infinito à nossa espera...
sábado, 17 de julho de 2010
Badu, a irmã mais nova dos Beatles
O almoço está quase pronto. Um cheiro de refogado no ar penetra as narinas e aguça a fome. O tilintar de vasilhas na cozinha soa como bálsamo aos ouvidos das crianças. Primeiro porque mamãe deve estar muito ocupada para prestar atenção em qualquer coisa que não sejam as intermináveis lidas do fogão. Segundo porque há promessa de almoço pronto em breve na casinha singela da Fazenda Velha, nos confins das Gerais.
Então chegou a hora especial. Não, não é o almoço, leitor apressado!
Badu - a filha caçula de 7 anos - é chamada para uma tarefa importante: precisa ir até a horta apanhar um pé de alface, salsa e cebolinha para a salada do almoço. Precisa ser fresca, por isso deve ser apanhada na hora em que o almoço esta quaaaaase pronto.
Badu sente aquela alegria no coração que só as crianças podem experimentar. Sensações que tornam a vida preciosa. Afinal ela tinha um encontro esperado e que só pode acontecer quando ela está a caminho da horta, sozinha, sem testemunhas.
Na pequena alameda ensolarada que leva ao vale do córrego, a estradinha serpenteia por entre uma relva baixa que delineia o caminho. Arbustos crescem e florescem em volta. Um vento leve deixa um cheiro de flor de assa-peixe no ar.
De repente, ao seu lado, Paul McCartney fala com certa melancolia na voz:
- Mas então Badu, quando vc. virá para Londres?
- Agora não posso Paul. Tenho muitos compromissos por aqui.
- O problema Badu, é que sentimos muito sua falta. Você é nossa irmã mais nova, temos muito apreço por você e também precisamos de sua ajuda com uns assuntos.
Badu, apesar de muito jovem, era muito sensata. Todos os irmãos a ouviam e sempre a consultavam no momento de tomar as decisões mais difíceis.Não era fácil ser irmã dos Beatles.
- Mas Paul, vocês não estão indo para Nova York?
- Sim, você nos acompanharia até lá. John Lennon quer muito conversar com você antes de finalizarmos o próximo disco. Sabe Badu, não tem sido fácil para nós. Só quando venho aqui sinto um pouco de paz. A vida em Londres é muito tumultuada. Os fãs exasperados tornam nossas vidas um tormento.
Badu caminha lentamente ao lado de Paul ouvindo-o com atenção e nem sequer percebe que está na horta, ao lado do canteiro de alfaces. Agacha-se e de um golpe rápido e firme arranca um pé de alface que lhe pareceu mais viçoso, cheira as folhas tenras orvalhadas - Parece bom esse, disse Paul.
- Um momento Paul, preciso de umas cebolinhas e salsa também. Vc. sabe, mamãe é muito exigente com as saladas.
-Eu posso lhe ajudar, Badu!
-Não se incomode. Me fale da sua inspiração. Como anda?
- Estou com umas idéias. Mas preciso primeiro lhe mostrar alguns rascunhos. Você poderá me dar algumas opiniões.
-Com certeza, Paul. Me des
culpe pela falta de tempo ultimamente. Nas férias poderei me dedicar mais a vocês quatro. Agora vamos andando – disse enquanto ajuntava as folhas numa sacolinha – pois já demorei demais.
culpe pela falta de tempo ultimamente. Nas férias poderei me dedicar mais a vocês quatro. Agora vamos andando – disse enquanto ajuntava as folhas numa sacolinha – pois já demorei demais.
-Claro. Vamos andando.No caminho podemos falar mais.
Enquanto subia de volta à casa, Badu intimamente lamentava a distância tão curta para falarem de tudo o que era importante. Seguia lentamente tentando ganhar mais tempo ao lado do irmão. Parou rapidamente para se despedir:
- Paul, amanhã nesse mesmo horário nos falamos novamente, OK?.Até lá, não tome nenhuma decisão sobre a viagem para Nova York. Farei o possível para ir com vocês. Não posso falar mais. Mamãe me espera. Deve estar impaciente.Mas antes, quero parabenizar a todos por "Twist and shout"; é linda demais da conta, gente!
- Obrigada mana! mas se não fosse sua ajuda, nunnnnca a teria escrito!
Neste momento Badu ouviu um grito vindo da cozinha :
- anda menina!!!!
Foi a conta de dizer : tchal!
Neste momento Badu ouviu um grito vindo da cozinha :
- anda menina!!!!
Foi a conta de dizer : tchal!
Badu então deu uma corridinha, subiu rapidamente os degraus que dão à cozinha e entrou de um salto.
-Que demora é essa menina? cruz credo!
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